
MAIORIA TEM COMORBIDADE
Embora esteja em queda nos últimos 6 meses, o percentual de mortos em março que já tinham alguma doença pré-existente é alto: 72,6%. Se considerarmos dados de todo o período da pandemia, 3 em cada 4 mortos possuíam alguma comorbidade. O alto percentual joga luz à discussão sobre prioridade na fila de vacinação. No Plano Nacional de Imunização, só pessoas acima de 60 anos, trabalhadores de saúde e comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas) estão à frente de quem tem doenças consideradas como fator de risco. Nos últimos dias, porém, 5 Estados e o Distrito Federal começaram a vacinar forças de segurança e já se discute também passar professores na frente de grupos com comorbidades na fila da vacina. Esse movimento é criticado por médicos porque ter fatores de risco é uma das condições que mais contribuem para o agravamento da doença e a morte. Muitos consideram fundamental imunizar logo esse grupo para esvaziar os hospitais. De acordo com o levantamento do Poder360, excluindo o grupo das pessoas acima de 60 anos do total de mortos por covid, 68% dos mortos tinham uma ou mais comorbidades. “Não tem por que vacinar oficiais de forças de segurança ou mesmo professores antes das pessoas com comorbidades. Para reduzir a sobrecarga dos hospitais, é fundamental vacinar os grupos com fatores de risco antes“, diz Bozza. O pesquisador da Fiocruz afirma que a lógica de vacinação segue critérios científicos. Trabalhadores da área da saúde estão na frente da fila para que não se perca força de trabalho para combater a pandemia e para que eles não espalhem o vírus nos hospitais. As pessoas acima de 60 anos são o grupo que mais sobrecarrega o sistema de saúde, mais tem complicações e mais morre. Depois deles, o grupos mais vulnerável e que mais pressiona os hospitais é o das pessoas com fatores de risco. Uma vez que esses 3 segmentos estejam vacinados, explica, a tendência é reduzir a pressão sobre os sistema de saúde e que os doentes possam receber melhor atendimento, diminuindo o número de mortos diários pela covid. Os grupos de pressão de forças de segurança e de profissionais da área da educação argumentam que a maior circulação desses profissionais acaba aumentando também a taxa de infecção. Assim como Bozza, o médico Ederlon Rezende ressalta que a estratégia de distanciamento, hoje, é a maior arma para conter a circulação do vírus. “Temos de ser mais incisivos nas estratégias de distanciamento social. O exemplo [do lockdown] de Araraquara é muito instrutivo para todos“, diz. Outra estratégia que países como Reino Unido vêm adotando para combater o colapso no sistema hospitalar é priorizar a distribuição da 1ª dose a todos os principais grupos de risco: trabalhadores da saúde, idosos e pessoas com comorbidades. A 2ª a dose, nessa lógica, seria atrasada para todos. “Como a administração apenas da 1ª dose já alivia normalmente os sintomas, isso contribuiria para desarmar o colapso do sistema de saúde e, consequentemente, diminuir de forma emergencial o número de mortes“, ressalta Bozza.OS FATORES DE RISCO MAIS FREQUENTES
Dos quase 296 mil registros de mortos analisados pelo Poder360, 125 mil indicam alguma doença pré-existente relacionada ao sistema cardiovascular. A 2ª condição mais presente nas pessoas que morreram é a diabetes: 31,4% de todos os óbitos por covid foram de diabéticos. “As duas condições são também muito comuns na população brasileira como um todo, o que ajuda a explicar, em parte, a presença no grupo dos mortos por covid-19“, diz Bozza. O médico afirma que há estudos indicando que o vírus usa um receptor ligado ao sistema cardiovascular, e que isso pode estar associado ao desenvolvimento de formas mais graves da doença em portadores de cardiopatias. Mas ressalva que ter apenas um fator de risco não aumenta tanto a chance de alguém ser hospitalizado. “O risco maior é quando há mais de uma comorbidade. Nossos estudos mostram que quanto mais comorbidades as pessoas têm ao mesmo tempo, mais aumenta o risco. Às vezes as pessoas ficam assustadas porque têm uma hipertensão leve. Isso, se for um fator isolado, tem um impacto baixo“, detalha o pesquisador. Obesidade (7,5% dos mortos), doença renal (6,2%) e doença neurológica (6,1%) estão entre as outras doenças mais frequentes. Para Bozza, pessoas que têm, em conjunto, doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade estão entre as que apresentam o maior risco de desenvolver a forma grave da doença.
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