As empresas sustentam que não têm dinheiro para honrar compromissos; Paes faz apelo, mas diz que não se abala 'com pressão'
Uma paralisação de motoristas interrompe, desde o fim da madrugada desta segunda-feira (1º), os serviços do BRT do Rio. Praticamente todas as estações dos três corredores nem sequer abriram.
Nos pontos atendidos pelos coletivos articulados do BRT, depois de filas enormes, ônibus regulares saem superlotados — com muita gente sem máscara. Guardas municipais tentam em vão organizar o embarque.
Também é grande a procura por vans e por viagens de aplicativo. Outra opção é pegar ônibus executivos, a R$ 17 — quatro vezes mais a tarifa básica do BRT, que é de R$ 4,05.
Mototaxistas cobravam até R$ 30 por um trajeto entre Guaratiba e Barra da Tijuca.
Estágio de atenção
Em função dos impactos na mobilidade, o Centro de Operações Rio informou que a cidade entrou às 6h30 em estágio de atenção — o terceiro em uma escala de cinco níveis, com riscos de ocorrências de alto impacto em diferentes regiões.
Meia hora antes, a cidade tinha entrado no segundo nível, o estágio de mobilização.
Até a última atualização desta reportagem, não havia previsão para o sistema voltar a circular.
Paes faz apelo
Ao Bom Dia Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) fez um apelo aos rodoviários.
"Faço um apelo aos motoristas do BRT para que retornem ao trabalho e não prejudiquem a população. Sabemos que o sistema passa por um momento difícil, mas estamos trabalhando firme para reequilibrar a situação. São anos de abandono e queremos olhar para a frente, encontrando soluções", disse.
'Acabou o oxigênio'
Paulo Valente, porta-voz do RioÔnibus — o sindicato das empresas de ônibus do Rio —, afirmou ao Bom Dia Rio que não há dinheiro sequer para o combustível.
"Posso comparar com Manaus, por exemplo. Todo mundo sabia o que acontece lá. O governo federal sabia que iria faltar oxigênio, o estado sabia que iria faltar oxigênio. A prefeitura também sabia, e ninguém tomou providências. No caso do município aqui, é a mesma coisa: a gente já vinha na UTI. As empresas vinham como se estivessem na UTI. Agora acabou o oxigênio", afirmou.
"É difícil até elaborar um plano de contingência quando não há dinheiro para comprar combustíveis, quando não há dinheiro para salários, quando as empresas se veem nessa situação que estão", destacou.
Paulo disse que, desde 2017, "mais de 10 empresas fecharam as portas porque não tinham condições de continuar rodando".
Entenda o impasse no BRT
O sistema Bus Rapid Transit (BRT) do Rio é composto por três corredores com vias exclusivas para ônibus articulados. Em estações semelhantes às de metrô, passageiros pagam a tarifa de R$ 4,05 antes de embarcar.
Os ramais cruzam a Zona Oeste (Transoeste), ligam o Aeroporto Internacional à Barra da Tijuca pela Zona Norte (Transcarioca) e unem Deodoro à Barra (Transolímpica).
Desde antes da pandemia, as empresas que operam o sistema reclamavam de desequilíbrio financeiro, com um elevado calote de usuários. O consórcio afirma que o cenário foi agravado com a suspensão de atividades na quarentena e a queda no volume de passageiros.
No último fim de semana, as empresas sustentaram que não tinham dinheiro para honrar compromissos.
“Chegamos no limite. Hoje, não há dinheiro em caixa do BRT, e estamos diante da incapacidade de honrar o pagamento daqueles que fazem o BRT funcionar”, reiterou o presidente do BRT, Luiz Martins.