O Republicanos tornou-se a principal escolha dos postulantes evangélicos que usam algum título ligado à religião nas urnas. São 419. Representam 8% dos registros de candidatos que usam alguma denominação evangélica na Justiça Eleitoral. O PSC (
Partido Social Cristão) é o 2º, com 369 candidatos (7% do total geral). Liderou em 2012 (com 231, mesmo número do Republicanos) e em 2016 (com 405). Os 2 partidos são historicamente alinhados ao segmento evangélico. O Republicanos tem vários integrantes egressos da Igreja Universal do Reino de Deus. O PSC é comandado pelo
pastor Everaldo, recentemente preso no Rio por conta de suspeitas de corrupção no governo fluminense –o que ele nega. O Republicanos, inclusive, está alinhado à base do governo desde 2006. Foi 1 dos partidos que apoiaram o então presidente Lula, sobretudo na aproximação com os evangélicos. A sigla conseguiu o Ministério do Esporte a gestão da presidente Dilma Rousseff. Foi o 1° partido a deixar a base aliada do governo no Congresso durante o impeachment da petista. A legenda voltou à base aliada do governo quando Michel Temer assumiu. Ganhou o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A pasta foi comandada por
Marcos Pereira (SP), evangélico da Igreja Universal e atual 1º vice-presidente da Câmara.
“Eles sempre foram muito hábeis em estar próximo do poder. Foi assim com Lula, Dilma, Temer e, atualmente, com Bolsonaro. Isso também ajudou no crescimento da sigla”, avaliou Renan William dos Santos, doutorando em sociologia pela USP.
O levantamento considera todas as pessoas que apresentam algum título religioso em seu nome de urna, por exemplo, o
Pastor Gilmar. Não foram contabilizadas as pessoas ligadas a igrejas, mas sem título religioso no nome de urna, como o prefeito do Rio,
Marcelo Crivella (Republicanos). Para fazer o levantamento, foram usados os seguintes termos nas buscas: “pastor”, “pastora”, “bispo”, “bispa”, “missionário”, “missionária”, “missionario”, “missionaria”, “padre”, “diácono”, “diacono”, “vigário”, “frei”, “freira”, “frade”, “arcebispo”, “presbítero”, “presbitero”, “eclesiástico”, “eclesiastico”, “pastoral”. Embora “bispo” exista nas igrejas evangélicas e católicas, o título foi usado apenas para as denominações evangélicas. É incomum um bispo católico se candidatar, até porque o Código de Direito Canônico, que rege a igreja católica, traz orientações contra a candidatura de membros da igreja. Os bispos são responsáveis por fazer cumprir as regras.
“A igreja católica não permite ter cargo político enquanto clérigo. Apesar de poucos, ainda saem padres candidatos”, declarou Santos.
MAIS CANDIDATOS
Ao menos 5.700 candidatos utilizam títulos religiosos no nome de urna nas eleições municipais de 2020. A quantidade aumentou 34% em relação às eleições de 2016. Neste ano, são 5.341 os candidatos que utilizaram títulos pertencentes aos evangélicos e 359 as pessoas com nomes ligados aos católicos. Eles correspondem a 1% do total dos candidatos que constam na lista do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Nas eleições anteriores, os candidatos evangélicos tinham a predominância dos nomes nas urnas. Foram 3.929 postulantes desse segmento contra 331 católicos nas eleições de 2016. Os números de 2016 são maiores que da eleição de 2012. Naquele ano, foram mapeados 3050 candidatos que tinham título evangélico nas urnas contra 319 católicos. Renan afirma que esses títulos são usados para tentar atrair votos de 1 nicho específico de pessoas. “
No entanto, o que está sendo perceptível, com base nas últimas eleições, é a redução do número de pessoas que foram eleitas usando essa estratégia“, disse. Gerson de Moraes, professor e filósofo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita também que colocar qualquer título na urna tenha o propósito de atrair votos de um determinado público. O professor analisa que, independente se possuem ou não o título durante a votação, os grupos religiosos na política estão cada vez mais presentes. Como exemplo, cita a bancada evangélica, que representa ao menos 20% dos deputados federais na Câmara. “
Esses grupos acabam sendo muito mais representantes das igrejas que do corpo politico republicano. Não possuem grandes projetos, são mais relacionados a valores, moralizantes”, destacou.